1 de junho de 2009

Até onde a alma me levar I


Um casebre ao longe numa ladeira, junto à árvore mais alta. Quando o olhar conquista as duas janelas circulares e o aroma me invade levando-me os sentidos ao seu interior, reconheço-me ali. Avalio a passagem até ao casebre... não está longe. Um murmúrio de água que se adivinha suavemente cristalina percorre-me a alma e alivia-me o cansaço. Mas não a vejo, apenas a aragem fresca e o som suave denunciam a sua presença. Avanço um pouco mais com a certeza de que me encontro ali. A vegetação densa e a variedade de cores com que pintaram o espaço à volta fascinam-me. Pergunto-me quem deixaria ali aquele tom violeta envolvido no laranja suave. Todas as cores no seu conjunto me encantam, mas o tom violeta irrompe pelo espírito e percorre a poesia da alma, até atingir uma rima perfeita. Um passo mais e o casebre tem agora os seus contornos definidos. Pequeno e acolhedor, protegido pela madeira escura que lhe dá vida. As pedras da ladeira indicam o caminho, impelindo-nos até ao espaço pleno que o envolve. Também há rosas e lembro-me do jardim de Adónis e, subitamente, desejo viver o momento. Vivê-lo para o perpetuar. Mas apercebo-me que desconheço o que me espera - o interior misterioso do casebre. Nunca parei mediante um mistério pelo medo de perder os seus ensinamentos. Fechei os olhos por um breve momento, inspirei o aroma a terra e flores e a frescura do pequeno curso de água que estava agora mais próximo fez levitar a alma. Avistei ao longe cavalos, donzelas e cavaleiros... viajei no tempo e regressei hipnotizada pelo canto das aves que sobrevoavam o casebre, que parecia agora bem mais amplo. Apercebo-me então que estou junto à porta. Uma porta imponente num casebre pequeno. O mistério adensa-se mediante a descoberta da porta, que, aparentemente, é como uma muralha que ninguém derruba. Penso que uma tempestade não ouse aproximar-se ou que um batalhão não ouse enfrentá-la. Mas o que lhe dá toda esta força? Descubro que é o desconhecido que ela protege. A porta é uma porta apenas... o que está para além dela ninguém sabe. Mas eu sinto-me, nesse momento, determinada a descobrir. Sinto que o encanto do momento desvanecerá se não a abrir. E fico ali a a olhá-la pensando que se não avanço, poderei não viver e receando que a descoberta do que está além dela me desiluda. Mas se há uma porta num casebre pequeno e acolhedor, numa ladeira onde também existem rosas, deve ser certamente para que a possamos abrir...