26 de julho de 2007

Deslumbrante!!!!!

Há coisas que, de tão deslumbrantes que são, nos deixam sem palavras, perante a sua magnitude, beleza extrema, fascínio que cativa, prende, emociona, enfeitiça... para mim a aurora polar é assim. Que dádiva mais linda!!!!!!! A mãe-natureza no seu melhor!

6 de julho de 2007

Memórias da minha infância



Lembro-me de correr pelos caminhos, despreocupada. Não havia estradas, portanto, o trânsito não era preocupação. Todas as crianças da aldeia (que mesmo todas era um pequeno número, já que a aldeia tinha pouco mais de meia dúzia de casas) se juntavam para brincar. O pai de uma amiga, que era emigrante no Iraque na altura, trouxe uma boneca para ela e uma para mim - nem imaginam a alegria! Foi a minha primeira boneca, o que, suponho, que se deve comparar à emoção de viajar ao espaço, já que eram as primeiras bonecas a chegar à aldeia. A minha amiga, vá-se lá saber porquê, escolheu a boneca mais feia, com as perninhas tortas, e eu, com o olhar fascinado pela outra boneca, vibrei com a a escolha dela. A boneca que me fascinou era para mim!! O turbilhão de emoções que duas bonecas causaram em duas meninas... Um dia chorei por essa boneca, que por força da falta de dinheiro, acabou por ser oferecida a outra menina que fazia anos e também não tinha. A minha irmã pediu tanto... cedi entre lágrimas, mediante a promessa de uma nova. Mas nunca, nessa altura, me passou pela cabeça a alegria dessa outra menina. Só a falta que me fazia a minha boneca nova. Mas depois, o tempo, sempre aliado nestas questões de saudade, ajudou a sentir menos a falta dela, mas nunca a esqueci.
As latas de sardinhas e de atum davam uns carrinhos fantásticos, sabem? Puxados por cordas, com pequenas rodas fabricadas com laranjas ainda muito verdes e pequenas, presas na ponta de paus. Hoje não conseguiria fazer melhor, porque parecia perfeito.
Aos Domingos podíamos jogar à malha, o senhor da loja (que parecia ser dono de tudo, porque tinha a mercearia, onde vendia tanta coisa - aos olhos de uma criança eram mesmo muitas coisas - até tinha cigarros de chocolate!!!) emprestava tão gentilmente as malhas, em ferro pesado que parecia, no entanto, não constituir dificuldade nenhuma. Os Domingos eram fantásticos, também podíamos jogar ao "4 em linha" ou às cartas, no terraço da loja que dava para uma pequena eira onde sabia tão bem brincar.
Quando ainda faltava muito para o Domingo, jogávamos às escondidas, aos países, aos polícias e ladrões ou inventávamos brincadeiras. Mas as ruas da aldeia eram sempre o cenário, ou os campos, com o seu verde, as árvores e as flores na primavera. Ainda hoje recordo o cheiro da primavera, o aroma da terra molhada, os campos lavrados e cultivados, a colheita...
E o rio (pequeno fluxo que água) onde mergulhávamos no verão, na hora em que o calor apertava e os nossos pais recuperavam forças para continuar as duras tarefas do campo?! Aprendi a nadar, perdi o medo, conquistei a água, ali, naquele afluente do Rio Homem, com as águas mais límpidas e puras que se pode imaginar, e frias também, mas isso é o que eu penso hoje, porque na altura, se me perguntassem como estava a água, eu diria sempre "Está tão boa!" porque era isso que eu sentia.
E as recordações da minha infância, em que me sentia rica, porque nada essencial me faltou nunca, povoam-me a memória e fazem-me sorrir a cada pequena lembrança. Como precisei de tão pouco para ser feliz!! Pouco que na verdade foi muito - fui sempre rica na idealização de mundos, nos ensinamentos que recebi como herança de uma mãe que é o meu melhor exemplo de força e determinação, que sempre batalhou para nos dar o que necessitávamos. O meu pai ficava pelas canções, sempre pacífico e atribuindo as tarefas da educação à minha mãe, tocava violino, viola, cavaquinho... Era admirável!!! Todos cantávamos ou tocávamos um instrumento. A vida era uma festa.
Só piorava nos longos e frios invernos, onde era inevitável a falha da luz eléctrica, que me deixava aterrorizada nas horas em que a trovoada teimava em ficar. Aí, a minha mãe rezava e tentava que todos rezássemos, mas mesmo esse momento, para ela tão sagrado, acabava por ser quebrado pelas brincadeiras do meu irmão João, que não resistia a fazê-las e acabávamos por rezar a rir.
Tão doces as recordações. Ficava aqui a escrever as crónicas da minha infância sem me cansar, mas sei, no entanto, que poucos dos meus leitores (sim, são os meus leitores) estarão agora a ler esta última parte. Mas deu-me esta vontade enorme de deixar escrito um pedacinho da minha infância e talvez continue um dia.