Até onde a alma me levar I
Um casebre ao longe numa ladeira, junto à árvore mais alta. Quando o olhar conquista as duas janelas circulares e o aroma me invade levando-me os sentidos ao seu interior, reconheço-me ali. Avalio a passagem até ao casebre... não está longe. Um murmúrio de água que se adivinha suavemente cristalina percorre-me a alma e alivia-me o cansaço. Mas não a vejo, apenas a aragem fresca e o som suave denunciam a sua presença. Avanço um pouco mais com a certeza de que me encontro ali. A vegetação densa e a variedade de cores com que pintaram o espaço à volta fascinam-me. Pergunto-me quem deixaria ali aquele tom violeta envolvido no laranja suave. Todas as cores no seu conjunto me encantam, mas o tom violeta irrompe pelo espírito e percorre a poesia da alma, até atingir uma rima perfeita. Um passo mais e o casebre tem agora os seus contornos definidos. Pequeno e acolhedor, protegido pela madeira escura que lhe dá vida. As pedras da ladeira indicam o caminho, impelindo-nos até ao espaço pleno que o envolve. Também há rosas e lembro-me do jardim de Adónis e, subitamente, desejo viver o momento. Vivê-lo para o perpetuar. Mas apercebo-me que desconheço o que me espera - o interior misterioso do casebre. Nunca parei mediante um mistério pelo medo de perder os seus ensinamentos. Fechei os olhos por um breve momento, inspirei o aroma a terra e flores e a frescura do pequeno curso de água que estava agora mais próximo fez levitar a alma. Avistei ao longe cavalos, donzelas e cavaleiros... viajei no tempo e regressei hipnotizada pelo canto das aves que sobrevoavam o casebre, que parecia agora bem mais amplo. Apercebo-me então que estou junto à porta. Uma porta imponente num casebre pequeno. O mistério adensa-se mediante a descoberta da porta, que, aparentemente, é como uma muralha que ninguém derruba. Penso que uma tempestade não ouse aproximar-se ou que um batalhão não ouse enfrentá-la. Mas o que lhe dá toda esta força? Descubro que é o desconhecido que ela protege. A porta é uma porta apenas... o que está para além dela ninguém sabe. Mas eu sinto-me, nesse momento, determinada a descobrir. Sinto que o encanto do momento desvanecerá se não a abrir. E fico ali a a olhá-la pensando que se não avanço, poderei não viver e receando que a descoberta do que está além dela me desiluda. Mas se há uma porta num casebre pequeno e acolhedor, numa ladeira onde também existem rosas, deve ser certamente para que a possamos abrir...
11 comentários:
Jacinta,
A atracção pelo desconhecido é um verdadeiro fascínio.
Beijinhos.
E eu também não recuo.
Mas é-me impossível saber,
o que encerrado estava,
nessa casa que se fechava.
E não é de não querer
que não posso o que quero.
É que esse sonho sonhado
é sonhado num sonho não meu.
O que era Jacinta?
Que encerrava a casa?
O que era Jacinta?
Mas agora noto.
E notando percebo:
há título nesse sonho.
Um sonho que é afinal
O sonho duma alma:
de até onde’alma levar;
levar aquela que sonha.
E eu sei. E eu sei.
Sei que por vezes é:
é até à própria alma
que a alma tem de levar.
E se assim é. Já coragem não tenho:
para perguntar.
Não traia o segredo de sua alma
aquela que alma sua viu.
lindo post, ótimo texto.
Muito bom vir aqui.
Vir aqui e ficar...
Maurizio
Querida amiga, eu já estava mesmo com saudades!
Lindo texto!
Acho que na vida nao podemos mesmo recuar. Sigamos em frente, adentremos pelo desconhecido para que ao olharmos para trás, nao nos arrependamos de nao te-lo feito.
Fiz-me entender?
beijos e um dia de paz!!
As portas assim, foram sempre uma tentação.
Gostei do texto.
Bjs
Querida amiga, este teu texto é delicioso. A tua escrita é fluida, certinha... e dá gosto ler.
Tem uma mensagem clara e, por isso, o teu trabalho é definitivo.
Mas poderias continuar e abrir essa porta... sei que tens imaginação de sobra para o fazer... deixo-te, por isso, esse desafio para um próximo post.
Mas aviso-te... eu não estou lá dentro... por isso, entra sem medo... eheheh...
Boa semana, beijo.
Art of Love, é bem verdade que tudo o que desconhecemos nos atrai.
Luís, é sempre um enorme prazer receber as tuas visitas no meu espaço e ler e reler as palavras que me deixas.
Maurízio, volta sempre.
Marlene, sabes como gosto de te receber e ao teu coração do tamanho do mundo que irradia alegria por onde passa.
Vieira Calado, são estas portas que nos impelem a avançar. Enquanto houver uma porta por abrir, haverá sempre um objectivo a alcançar.
Nilson, que bom ler-te. Obrigada pelas palavras, que são sempre um incentivo. Quanto à porta, estou diante dela, na indecisão própria de quem receia o desconhecido. Mas a certeza de que o mistério me pode encher a alma levar-me-á certamente a entreabrir essa porta e a descobrir os seus mistérios. Quando? Quem sabe no próximo post? Quem sabe?
Obgda por estarem desse lado e fazerem parte desta caminhada, atenuando os meus passos no piso agreste e dando mais cor a este mundo meu. Um bj a todos os que vão passando.
Que Deus te abencoe querida!
beijos
Um areal morno acolheu
Teus passos ávidos da chegada
Caminhas na procura das marcas
De uma espera desencontrada
Calmaria!
A bonança reivindicou o Sol no celeste
Uniram-se os pedaços de rasgada vela
Tua alma retomou o sonho adiante
Boa semana
Mágico beijo
Jacinta,
Vim em busca de novidades, e à falta delas aproveito para te deixar um beijinho.
Enviar um comentário