António Branco
Há pessoas que marcam a nossa passagem de uma forma extraordinariamente poderosa - que fica para sempre na memória. Quem não teve um professor ou uma professora que tenha sido uma influência (boa - hoje só vou falar de boas influências)?
Hoje relembro alguns com carinho e saudade, recordo inclusive frases ou hábitos que marcavam as suas personalidades. Confesso que a ideia de eu o poder ser também na vida de alguém, me dá uma satisfação inefável.
Poderia começar pela infância, passar pela fase da adolescência, e teria certamente muito a contar. Mas vou mais perto no tempo, aos anos de faculdade, só para relembrar com carinho um professor admirável, com a capacidade de tornar todas as aulas tremendamente curtas. Quero deixar toda a minha admiração e agradecimento ao Prof. Dr. António Branco da Universidade do Algarve, pela paixão que dedica ao conhecimento, ao estudo, ao ensino da literatura... é formidável quando um professor transmite tudo isto aos alunos.
Deixo-vos um soneto deste professor que ficará para sempre na minha memória e na memória de muitos alunos que tiveram o privilégio de assistir às suas aulas.
Ira
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É ira estar aqui e nada ser,
Do mundo querer razão p'ra ser alguém,
Salvar identidades de ninguém,
Na esperança de ganhar um só segundo.
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É ira estar aqui e ser além,
Entre a velha morte e o novo andar,
Calçar a alma de fundos de mar,
Sofrer a culpa imune desta Sorte.
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Desmesurada de ostras por abrir,
A ira mais medonha, mais espiga,
Quanto mais o desejo enfurecer.
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E a calma engana a ira, no dormir.
Mas fica sempre a raiva tão antiga
De nunca estar aqui - e nada ser.
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António Branco in Fugidia Comunhão